quarta-feira, 14 de maio de 2008

O cavaleiro inexistente

Chegaram à Curvaldia. Não se reconhecia mais a região. Em lugar das belas aldeias haviam surgido cidades com palácios de pedra, e moinhos, e canais.
- Voltei, boa gente, para ficar com vocês...
- Viva ! Bravo ! Viva ele ! Viva a esposa dele !
- Esperem para manifestar sua felicidade com a notícia que tenho para dar-lhes: o imperador Carlos Magno, a cujo nome sagrado doravante vocês se inclinarão, investiu-me do título de conde da Curvaldia!
- Ah... Mas... Carlos Magno...? Fala a sério...
- Não entendem? Agora têm um conde! Vou defendê-los de novo das prepotências dos cavaleiros do Graal!
- Oh, há bastante tempo já expulsamos aquela gente da Curvaldia! Veja, nós obedecemos durante muito tempo... Mas agora percebemos que se pode viver bem sem dever nada a cavaleiros nem a condes... [...] Gostaríamos que ficasse aqui... mas de igual para igual...
- De igual para igual? [...] Terei de considerar igual a mim este escudeiro, Gurdulu, que nem sabe se existe ou não?
- Até ele aprenderá... Nem nós sabíamos que estávamos no mundo... Também a existir se aprende...

Ítalo CALVINO. O Cavaleiro inexistente. São Paulo: Cia. das Letras, 2005.

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