segunda-feira, 19 de maio de 2008

Kitty aos 22: Divertimento


Eram sete e quarenta. Kitty voltou pra cama só pra constar. Depois daquele drama todo, não conseguiu mais dormir. Até que desistiu e atirou o edredom e sentou-se diante do computador. No Outlook não havia - nem precisava haver - mensagem de bmhodiak@humpf. Ligou o rádio dublê relógio. Zapeou os canais até topar com uma música do Silverchair: "Without You". Deixou lá. Abriu a janela e durante agum tempo ficou ali passando no cabelinho um pente distraído. Música cessou, entrou a falação. Devia ser a Universidade com seus flashes de notícias sem maior interesse:

- O filósofo Gilles Lipovetsky veio ao Brasil divulgar seu livro O luxo eterno: da idade do sagrado ao tempo das marcas. Segundo o filósofo, o atual ícone máximo do luxo não é a compra de produtos mas a compra de emoções. O milionário que pagou vinte milhões de dólares para passar 10 dias numa estação espacial seria a maior representação desse luxo moderno, ou hipermoderno, que é como Lipovetsky define o nosso tempo. Ele diz que hoje o grande ícone do luxo é alguém gastar uma soma considerável unicamente para pagar sensações. Depois não fica nada, a pessoa não adquiriu um produto nem um objeto, mas só a experiência de sentir uma emoção.

Que idiota, pensou Kitty: vinte milhões de dólares jogados fora. Quanta coisa eu não faria com vinte milhões de dólares? Teria minha própria banda, a minha própria boate, o meu próprio estilista. Sorriu com seu sorriso inestimável: Eu sim saberia o que fazer com vinte milhões de dólares.

- É preciso armar os jovens, diz o filósofo, para que possam encontrar um sentido para a existência que não seja unicamente ir a um templo da moda e comprar tal e tal marca. O que acontece hoje, segundo Lipovetsky, é que não temos mais muitos sonhos. Por isso, o consumo para muitas pessoas funciona como um sonho: de beleza, de coisas de qualidade, de estética, de felicidade, de distanciamento. O homem não foi feito só para consumir, ele também foi feito para criar, para progredir, para melhorar. O consumo é muito bom, mas não pode preencher a vida. Se não há outro valor além do consumo, é muito triste, conclui o filósofo.

Aí eu concordo, pensou Kitty. Eu, por exemplo, gosto de consumir, mas não me considero viciada em consumo, como Deb, por exemplo, e tantas outras que tem por aí. Consumo pra mim não é um sonho. É uma realidade. Sonho pra mim é outra coisa. E o que é sonho pra você Kitty? A pergunta veio e não soube de onde. Sonho pra mim? Sonho pra mim é amar muito e ser muito amada, é viver minha vida sem preocupações e sem dar bola pra ninguém, é viver intensamente cada minuto, porque os minutos vão e não voltam mais. Sonho pra mim é isso, conclui, satisfeita com a precisão da resposta.


NEVES, Reinaldo Santo. Kitty aos 22: Divertimento. Flor&cultura:Ilha de Vitória, 2006



Kitty é bonita pra caralho. Olho azul, cabelo superlouro, pele dourada de sol; 22 aninhos de idade. Corpo que tudo que veste cai bem, desde o vestido longo de seda até o short cavado de jeans; desde a rósea camisola de alça até a nudez de teor absoluto. Voz grave; sorriso inestimável; riso de cristal. Guto, em raro momento de inspiração, descreveu-a assim: Se ser bela cansasse, Kitty viveria exausta. Como se não bastasse, ainda é aluna de Comunicação Social em faculdade católica, 3 salários mínimos de mansalidade; porque passou no vestibular, ano retrasado, ganhou de Daddy um Audi A-3 vermelho. Que está ali no estacionamento ... (palavras do autor)

Autor capixaba, do departamento de Letras da UFES, vale a pena conferir. Qualquer semelhança de lugares e pessoas dessa Ilha chamada Vitória, não é mera coincidência. Depois de terminada a leitura do livro, você é forçado a se perguntar: quantas Kitty's, Guto's, Deb's, Sérgios não conhecemos? Ou melhor, será que somos um deles? Vai a dica.

9 comentários:

Stranger disse...

Desculpe-me ..
Acabei me alongadno
=D

Vítor C. disse...

cara, fui deletar um comentário de propaganda e por um instante achei que tinha deletado seu post ! caraca, gelei aqui hueaheaiuea

mto bom. o livro parece ótemo. =)

Fernando Kovac disse...

Por que os apóstrofos no final dos nomes próprios? "Guto's"?
Vc é o quê? Dono de bar em Cariacica?

Vai aprender a escrever, cara!

Anônimo disse...

não é um bom livro, personagens fracos, que não são nada mais que nomes em um papel, não existe profundidade. não entendi qual foi o objetivo do autor com essa historia, não sou moralista , mas pra mim isso é tudo uma pornagrafia sem sentido. uma visão completamente superficial da juventude, enfim, péssimo livro.

Felipe Fernández disse...

Se antes afogavam os escritores fora da academia, agora matam a literatura de dentro dela.

Maria Eduarda Ribeiro disse...

Literatura não é apenas obedecer aos moldes impostos por movimentos literários. O livro Kitty aos 22: divertimento faz parte do movimento pós-moderno, no qual não necessita de nenhum tipo de estética definida. De fato, quem postou que Reinaldo dos Santos Neves não sabe escrever, ou que está ''afogando'' a literatura realmente não sabe o que fala!

Anônimo disse...

Nussss... não consegui ler nem 20 páginas do livro. Me embrulhou o estômago!! Afffffff

Anônimo disse...

Tentei ler o livro mas sinceramente não consegui ir além das primeiras 5 páginas. Se parece mais com um relato jornalístico que com um romance contemporâneo. Espero mesmo que os próximos livros do autor nos retrate mais profundamente, porque neste os jovens foram descritos como fúteis e superficiais tal como a estória desse.

Anônimo disse...

Li esse livro somente pelo fato de estar na lista obrigatória de leitura do meu vestibular em 2012. Não é o tipo de leitura que me apetece, confesso. Achei um livro superficial em relação aos personagens bem como às descrições das cenas.
Não é uma obra que eu indico a ninguém. Não duvido do talento do autor - aliás, já o conheci pessoalmente em uma palestra e discuti com ele suas inspirações para redigir o livro-, mas acredito que errou ao escrever esse seu trabalho.