O poder total me parece em si uma coisa má e perigosa. Seu exercício me parece acima das forças do homem, não importa quem seja, e só vejo Deus que possa ser sem risco todo-poderoso, pois sua sabedoria e sua justiça são sempre iguais ao seu poder. Não há sobre a terra autoridade tão respeitável em si mesma, ou revestida de um direito tão sagrado, que eu queira deixar agir sem controle e dominar sem obstáculos. No momento mesmo em que vejo ser atribuído o direito e a faculdade de tudo fazer a uma potência qualquer, que se chame povo ou rei, democracia ou aristocracia, que se exerça numa monarquia ou numa república, digo: aqui está o germe da tirania, e procuro viver sob outras leis.

Alexis de TOCQUEVILLE. De la Démocratie en Amérique 1. 1835. BC UFES: 321.7 T632d.


Esse livro, pra ser sincero, eu li no ano passado, mas como tou vendo que todo mundo está entre uma leitura e outra resolvi postar pra animar um pouco o blog.

Alexis de Tocqueville (1805-1859) se tornou célebre por essa obra, em que tenta demonstrar a inevitabilidade da substituição da antiga sociedade hierárquica pela ordem democrática, caracterizada principalmente pela igualdade de condições. Assim como muitos pensadores de sua época -- como Bolívar, por exemplo -- viu nos Estados Unidos o grande modelo. Não acreditava, no entanto, que se deveria imitar o sistema americano, e sim observar nele os efeitos avançados da "grande revolução democrática" para, de posse desse conhecimento, construir a democracia francesa.

De resto, se alguém quiser conhecer melhor Tocqueville, recomendo a leitura das Lembranças de 1848 (BC UFES: 944 T632l), porque é um livro menos teórico, uma leitura mais fluida. Tocqueville viveu, como deputado e ministro, as revoluções de 1830 e de 1848, além do golpe de Luís Bonaparte no final de 1851, o que torna sua obra ainda mais interessante.