“(...) Chukhov levantava-se sempre logo que ouvia o toque da alvorada: Mas nesse dia não o fez. Sentira-se doente na noite anterior, num estado febril, com dores por todo o corpo. Durante toda a noite não conseguira aquecer-se e, mesmo no sono, sentira em dado momento que piorava bastante, enquanto logo a seguir sentia que melhorava. E ansiava para que a manhã não chegasse.
Mas, como habitualmente, a manhã chegou (...).”
“(...) Buinóvski voltara das latrinas sem falar com ninguém em especial, mas anunciando com uma espécie de maliciosa alegria:
- Bem, marinheiros, comecem a ranger os dentes. Está com certeza uma temperatura de trinta graus abaixo de zero.
Foi então que Chukhov decidiu dar parte de doente.
Naquele mesmo momento seu cobertor e sua jaqueta foram puxados sem cerimônia. Pôs de lado o capote que tinha sobre a cara e sentou-se na cama. Erguendo os olhos para ele, a cabeça ao nível do beliche, estava a figura delgada do ‘Tártaro’.
Sucedia que esse camarada estava de serviço fora da escala e aproximara-se sem ruído.
- C 854 – leu o Tártaro na tira de pano branco cosida nas costas da sua jaqueta. – Três dias de castigo, com trabalho.
No momento em que ouviram a sua voz abafada, alguns que ainda não tinham levantado em toda a barraca frouxamente iluminada, na qual duzentos homens dormiam em beliches infestados de percevejos, despertaram para a vida e começaram a vestir-se apressadamente.
- Por quê, cidadão chefe*? – perguntou Chukhov, mais mortificado do que sua voz deixava transparecer.
Com trabalho! Não era, ainda assim, muito mau. Davam comida quente e não havia tempo para começara pensar. Verdadeiro degredo era quando retiravam um prisioneiro do trabalho.
- Por não se levantar ao toque da alvorada. Siga-me até ao gabinete do comandante do campo – disse lentamente o Tártaro (...).”
* Aos prisioneiros não era permitido empregar a palavra "camarada".
OBS: O nome completo do personagem principal do livro é Ivan Deníssovitch Chukhov.
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