,
Napoleão, quando eu nasci, estava já em todo o esplendor da glória e do poder; era imperador e granjeara inteiramente a admiração dos homens. Meu pai, que à força de persuadir os outros da nossa nobreza acabara persuadindo-se a si próprio, nutria contra ele um ódio puramente mental. Era isso motivo de renhidas controvérsias em nossa casa, porque meu tio João [militar], não sei se por espírito de classe e simpatia de ofício, perdoava no déspota o que admirava no general, meu tio padre era inflexível contra o corso; os outros parentes dividiam-se: daí as controvérsias e as rusgas.
Chegando ao Rio de Janeiro a notícia da primeira queda de Napoleão, houve naturalmente um grande abalo em nossa casa, mas nenhum chasco ou remoque. [...] Figurei nesses dias com um espadim novo, que meu padrinho me dera no dia de Santo Antônio; e, francamente, interessava-me mais o espadim do que a queda de Bonaparte. Nunca me esqueci esse fenômeno. Nunca mais deixei de pensar comigo que o nosso espadim é sempre maior que a espada de Napoleão. E notem que eu ouvi muito discurso, quando era vivo, li muita página rumorosa de grandes idéias e maiores palavras, mas não sei por que, no fundo dos aplausos que me arrancavam da boca, lá ecoava alguma vez este conceito de experimentado:
- Vai-te embora, tu só cuidas do espadim.
Machado de ASSIS. Memórias Póstumas de Brás Cubas. BC UFES: 869.0(81)-31 A848m
Dando continuidade à série postagens enormes que ninguém vai ler, eis um fragmento de um dos maiores escritores brasileiros - o maior segundo o Josemar haha. Enfim, o autor dispensa meus comentários.
2 comentários:
Vitor e o pai da lingua!!!
AUhAUhAUhAUH pai da língua? haha Pq? Machado?
cara, meu sonho é dar uma aula de literatura sobre Machado. Minha primeiras palavras seriam: Machado foi um grande filho da puta. aheuhae
Po, ele zuava todo mundo.
Postar um comentário