Um socialista que se chamava Proudhon, no fim da vida, pensava que a propriedade individual era a condição necessária da independência do indivíduo com relação ao Estado. Quanto mais você suprime a propriedade individual, mais deixa o indivíduo sujeito à vontade do Estado. Dito isso, se você pensa que o Estado é bom, que as idéias que o inspiram são verdadeiras, quanto mais poder ele tiver, mais você ficará satisfeito -- ao menos pelo tempo em que estiver do mesmo lado dos que governam.

Raymond ARON. Dix-huit leçons sur la société industrielle. 1958. p. 127. (Tradução minha).

Eis um trecho que não vai colaborar em nada para a minha imagem, já que descobri há pouco tempo que sou visto como liberal, ou até como conservador. É preciso dizer, no entanto, que fui de esquerda "desde pequenininho" e que aquilo que foi visto por muitos como "a" minha posição política não foi mais que um momento de flexibilização. Hoje, talvez uma análise do marxismo à la Skinner [1] fosse mais significativa do que penso, mas resolvi postar o trecho do Aron por que essa idéia da desconfiança do Estado tende a ser minha maior herança liberal. De fato, apostar na capacidade do Estado de tudo gerir, deixando os indivíduos à sua margem, não me parece razoável e a propriedade privada é a garantia do indivíduo contra as flutuações da política e a tirania dos governantes. O que não significa que as grandes desigualdades de propriedade sejam justificáveis.

[1] Para ler o Skinner, clique aqui.