"Iluminados por este padrão dominante, lemos nossa história a partir dele, como se nessa biografia de um personagem central se incorporassem todos os personagens centrais dos vários séculos, sempre os mesmos; como se todos os caminhos levassem natural e inexoravelmente ao caminho principal, o percorrido, e ele fosse um desdobramento também natural de uma circunstância dada, ou um resumo, um apanhado, das alternativas concretamente vividas"
(...)
"Estas reflexões me são sugeridas no momento em que penso sobre as formas de organização familiar no Brasil colonial. É possível reduzir a imensa gama de possibilidades inscritas num espaço natural e social aberto, muito lentamente ocupado e organizado, a uma história na qual, mudando os personagens, permanece uma fala central idêntica a si mesma, preenchida a cada geração por novas palavras, sempre com o mesmo sentido? É possível ignorar a soma de personagens, funções e a mobilidade envolvidos na mais simples operação social no Brasil em seus primeiros anos de existência, e aprisionar todos estes elementos num lugar privilegiado como modelo de interação social: o engenho? É possível esquecer as redes de relações, as ramificações interiores e exteriores ao país, necessárias à sobrevivência do mais simples estabelecimento colonial e incorporá-las todas na figura de um senhor, o dono do engenho - que muitas vezes não passava de um agente dos donos reais -, moderno Abraão conduzindo um dócil rebanho?"
Correa, Mariza. Repensando a família patriarcal brasileira, In. ALMEIDA, Mariza Suely R. Colchas de retalhos: Estudos sobre a família no Brasil. p. 16-17.
Primeiro quero perdir desculpas pela referência incompleta. Assim que eu achar o livro eu posto direitinho ! Sei que esse texto foi publicado em 1981! O objetivo central da autora é demonstrar que os modelos criados por Gilberto Freyre e Antonio Candido não são suficientes para compreender a Familia colonial Brasileira... Esses dois momentos descritos acima me fizeram refletir sobre os vários modelos que utilizamos e não temos coragem ou até quem sabe capacidade de combater.
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